03 março 2006

Enfrentando os bárbaros!

Ela sabia que não havia como dominar ou conter aquela turma de bárbaros. O melhor que podia fazer, e já fazia algum tempo que fazia este pouco melhor que podia, era ir levando a coisa, procurando evitar os atritos. Qualquer conflito entre a autoridade, que se supunha ela deveria ter, e o bando barbárico seria a prova cabal daquilo que todos aqueles que estavam naquela sala - a autoridade subordinada e subordinados autoritários - já sabiam: ela estava acossada e não tinha autoridade sobre o grupo.

Não era uma característica sua, essa falta de autoridade sobre os barbáros, esses barbáros é que eram refratários a qualquer tipo de autoridade. Foram criados em ambientes em que não há a noção de limites, sem a presença de alguém que se reconheça como uma autoridade. Nesses ambientes, em que alguns ainda chamam lar, um casal de "jovens de mais idade", ela uma gatinha, ele um gatão, desempenham o papel de provedores das coisas, são quem entram com a grana. E só.

Sua função não era dar seguimento a um programa educacional que houvesse começado em algum momento na vida daqueles bárbaros. Eles não sabiam o que era programa e, muito menos o que era educação. A oportunidade de ensinar o aprendizado civilizatório básico, aquilo que nos separa dos irracionais, já havia passado, não era mais oportuno, daqui para frente a técnica deveria ser a de minimizar os danos - principalmente que eles pudessem causar aos outros.

Ela olhou mais uma vez, encarou as feras com determinação, era seu destino e não havia como fugir dele, escolhera a profissão livremente, agora tinha que enfrentar o desafio de ser professora do primeiro ano primário.

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